PESQUISE

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Água: saber mineral, científico e filosófico”




Ta com sede?






Temos sede de justiça, de abrigo, de afeto, de assistência humana plena, de liberdade, de vida. Entre tantas sedes a de água não se superpõe as outras, contudo, a eleição de um problema para extensão universitária nos coloca diante da necessidade de refletir sobre o drama da existência da vida. O planeta que chamamos Terra tem sua superfície com 70% ocupado por água, quando consideramos o superlativo da maior parte ser salgada, nos resta apenas 3% do total em água doce e, desses, 0,01% disponíveis para todos os nossos usos, devendo compartilhar com outros seres da natureza. Cada vez mais nossas crescentes demandas já projetam a reclamação para incorporar as geleiras e os reservatórios em subsolos muito profundos. O Brasil recebeu de graça os aqüíferos Guarani e Alter do Chão, pois nada fizemos para construí-lo, sendo portanto produto da genes do planeta. No século XIX não havia quem dissesse essa porção de ar pode se configurar em propriedade privada, já com a água desde tempos imemoriais os povos trataram de se apropriarem desta fonte para salvaguardar sua reprodução. A genealogia do cosmos pode ser observada em mitos ancestrais tal como os descritos por Raíssa Cavalcanti, no livro “Mitos da Água”, chegando a conquistar a condição de “Prima Matéria”, ao significar a compreensão do cosmo, do humano e suas muitas construções como o Bhagavad Gita ao conferir Deus como a origem do universo ‘cuja natureza há oito formas elementais: terra, água, fogo, ar, éter, mente, razão e consciência individual’, ou no modo como Tales de Mileto sustentou ser a água o elemento gerador enquanto outros buscaram em epifanias diferentes o ser da razão.Há muito saber da/na água. Ela está presente na consistência mesma dos nossos corpos, vertendo suor e lágrima expressamos o quotidiano da experiência de estar no mundo para finalmente sermos secos de nossa existência. Quando se nos apresenta o arranjo químico da água, dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, não captamos toda dimensão dessa molécula, antes da ciência chegar nessa descrição já concebíamos a importância da perda da água ou da desidratação ao fragmentar os tecidos dos seres vivos e não vivos. A seca é um monumental fenômeno de reclamo de água ao demonstrar as rachaduras na terra similares ao serpenteado das rugas perdendo o viço em nossa pele.Aprendemos muito sobre a importância desta substancia, desta essência como manifesto ovo cósmico, Bramanda, chocado na superfície das águas (prakiti) temos o fundamento da civilização como explicação complexa da vontade de significar nossa existência no mundo. O deus eterno Kneph do Egito de outrora era simbolizado na serpente enroscada em um vaso de água; enquanto na cultura polinésia as ‘águas primordiais eram mergulhadas nas trevas cósmicas’ de lá só saindo por uma vontade manifesta do Deus supremo; o taoísmo renova esta condição primal ao elevar a água como sopro vital ‘(prana)’ como testemunha Glaucio Gonçalves Tiago.Se água assumiu um sentido nas muitas cosmogonias humanas, na ciência ela tornou-se um saber mineral, disposição inorgânica da organicidade físico-quimica da experiência manifesta em realidade. Sua utilidade é inquebrantável diante das necessidades econômicas e políticas como ficou patente nas guerras pelas fontes de água. Toda essa diversidade nos motiva a perceber usos e costumes para água no presente e para as gerações vindouras. A Agência Nacional de Águas – ANA, organismo do estado brasileiro, tem um tímido acervo de manifestações sobre a água, embora ambicioso, não chega sequer a ser uma enciclopédia alcançando perto de 70 exemplares como atesta seu sítio eletrônico. Estamos exatamente no meio da ‘Década Internacional de Ação “Água para a Vida, 2005-2015”, por isso a importância de criar uma sistemática de saberes sobre a ÁGUA de tal sorte possamos investir em produção acadêmica, bem como elaboremos boas práticas relacionadas ao tema, tornando a cultura do dia 22 de Março, Dia Mundial da Água, em intervenção crítica sobre nossas alternativas de desenvolvimento.Ungindo água como tema central da 13ª Jornada de Extensão da UFPA lhe dá uma credencial amais frente a tantas outras propostas integrantes do diferenciado e rico corpo de extensão universitária desenvolvido em nossa práxis acadêmica; nesta oportunidade estará ladeada com a exposição pública da diversidade de trabalhos cultivados na universidade. Esta postura se inscreve na trilha de dialogar com a Ilharga da universidade voltando-nos para as comunidades das ilhas ao redor de Belém, senão tão encantadas pelas águas como nós, também sabem água em sua vivencia.



Prof. Dr. Fernando Arthur de Freitas Neves


Pró-reitor de Extensão da UFPA(13ª Jornada de Extensão da Universidade Federal do Pará)


Evento Ocorrido dias 23, 24 e 25 de Novembro de 2010 em Belém do Estado do Pará